segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Batman: A Piada Mortal, o Filme


A História em Quadrinhos

Batman: A Piada Mortal (Batman: The Killing Joke) é uma história escrita por Alan Moore (Watchmen, V de Vingança e Do Inferno) e ilustrada por Brian Bolland (Judge Dredd e Camelot 3000), publicada em 1988 pela DC Comics. Mesmo contendo apenas 52 páginas, incluindo capa e contracapa, a HQ é considerada um clássico absoluto e um dos melhores contos de Batman e o Coringa em todos os tempos.

Na trama, Batman descobre que o Coringa fugiu novamente do Asilo Arkham, desta vez querendo provar uma teoria: “basta um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático.” Para isso, investe seus esforços no Comissário Gordon após ferir gravemente sua filha Barbara, a Batgirl. Cabe a Batman achar o Palhaço do Crime antes que seja tarde demais.

O Estudo de Personagem de Moore

Um dos grandes triunfos da graphic novel reside no desenvolvimento mais aprofundado das personalidades dos protagonistas. Moore conseguiu sintetizar, em poucas páginas e diálogos, a relação de ódio e dependência entre vilão e herói. Pela primeira vez, há uma origem mais definida para o Coringa (embora este se lembre do ocorrido de formas diferentes, podendo enganar até mesmo o leitor com seus flashbacks).

Assim como Bruce Wayne, o Palhaço do Crime também teve um dia ruim, o que mudou sua vida para sempre. Batman não sabe como o Coringa se tornou o que é, e este também não sabe o que levou aquele homem a se vestir de morcego e combater o crime em Gotham City. O que sabem é que, no fim das contas, são mais parecidos do que o Cavaleiro das Trevas gostaria de admitir: um não existe sem o outro, mas Batman sabe que, em algum momento, um deles inevitavelmente morrerá.

A Arte de Bolland

Seria injusto falar do brilhante roteiro de Moore sem mencionar a arte fabulosa criada por Bolland. O ilustrador captou a essência mais sombria e realista da estória de forma impecável, utilizando luz e sombra de formas raramente vistas em uma HQ até então. Seus traços sóbrios são quase como fotografias e sua atenção aos detalhes é um prato cheio para quem busca referências por todos os lados. Definitivamente, A Piada Mortal é fruto da parceria entre dois grandes artistas.

Adaptações para o Cinema

Alguns elementos da HQ, como a transformação do Coringa, foram adaptados por Tim Burton no filme Batman, lançado no ano seguinte. O próprio Christopher Nolan aproveitou pequenos detalhes da estória em Batman: O Cavaleiro das Trevas de 2008, no qual o Palhaço do Crime conta diferentes versões sobre como adquiriu aquela aparência.

Batman: A Piada Mortal, o Filme

Então, em 2016, a verdadeira adaptação cinematográfica de A Piada Mortal é lançada. Dirigida por Sam Liu e dublada por Kevin Conroy (Batman), Mark Hamill (Coringa), Tara Strong (Barbara Gordon) e Ray Wise (James Gordon), a animação apresenta, em seus trinta minutos iniciais, uma subtrama não incluída na HQ.

Neste extenso prólogo, há a dinâmica problemática resultante da parceria entre Batgirl (que aparece apenas como Barbara na graphic novel) e Batman, enquanto este tenta afastá-la de uma investigação a fim de protegê-la dos “encantos” do narcisista criminoso Paris Franz (Maury Sterling), sobrinho do chefe do crime Carlos Francesco (John DiMaggio).

Se por um lado é interessante ver Batgirl em ação, como foi a parceria entre os heróis e até que ponto chegaram antes dos eventos da HQ, por outro o prólogo é alongado demais e desnecessário ao filme como um todo, já que a narrativa muda quase completamente nos quarenta minutos finais, quando o Coringa entra em cena e a trama principal finalmente acontece.

A transição entre as duas narrativas (o motivo que leva Batman ao Asilo Arkham) é pouco inspirada, o que faz com que o filme pareça uma junção de dois curtas-metragens. Ponto negativo para Brian Azzarello, roteirista do projeto.

Pequenos detalhes da HQ foram alterados e novas cenas foram incluídas para realçar ainda mais as motivações do Coringa (ainda assim, é uma adaptação bem menos violenta, não fazendo jus à elevada classificação indicativa nos Estados Unidos). Há também uma cena adicional durante os créditos finais que aponta para o futuro de um dos personagens.

De forma geral, a adaptação é bastante fiel ao material de origem, embora peque por escancarar sutilezas concebidas de forma magistral por Moore e os traços genéricos da animação serem inapropriados para aquele conto sádico e violento, já que raramente remetem ao clima noir tão adequado e presente na arte de Bolland, e o desfecho em ambas as versões é um belo exemplo deste contraste.

Nota: ***