A História em Quadrinhos
Batman: A Piada Mortal (Batman: The Killing Joke) é uma história
escrita por Alan Moore (Watchmen, V de Vingança e Do Inferno) e ilustrada por Brian Bolland (Judge Dredd e Camelot 3000),
publicada em 1988 pela DC Comics. Mesmo contendo apenas 52 páginas, incluindo
capa e contracapa, a HQ é considerada um clássico absoluto e um dos melhores contos
de Batman e o Coringa em todos os tempos.
Na trama, Batman
descobre que o Coringa fugiu novamente do Asilo Arkham, desta vez querendo
provar uma teoria: “basta um dia ruim
para reduzir o mais são dos homens a um lunático.” Para isso, investe seus
esforços no Comissário Gordon após ferir gravemente sua filha Barbara, a
Batgirl. Cabe a Batman achar o Palhaço do Crime antes que seja tarde demais.
O Estudo de Personagem de Moore
Um dos grandes
triunfos da graphic novel reside no
desenvolvimento mais aprofundado das personalidades dos protagonistas. Moore
conseguiu sintetizar, em poucas páginas e diálogos, a relação de ódio e
dependência entre vilão e herói. Pela primeira vez, há uma origem mais definida
para o Coringa (embora este se lembre do ocorrido de formas diferentes, podendo
enganar até mesmo o leitor com seus flashbacks).
Assim como Bruce
Wayne, o Palhaço do Crime também teve um dia ruim, o que mudou sua vida para
sempre. Batman não sabe como o Coringa se tornou o que é, e este também não
sabe o que levou aquele homem a se vestir de morcego e combater o crime em
Gotham City. O que sabem é que, no fim das contas, são mais parecidos do que o
Cavaleiro das Trevas gostaria de admitir: um não existe sem o outro, mas Batman
sabe que, em algum momento, um deles inevitavelmente morrerá.
A Arte de Bolland
Seria injusto
falar do brilhante roteiro de Moore sem mencionar a arte fabulosa criada por
Bolland. O ilustrador captou a essência mais sombria e realista da estória de
forma impecável, utilizando luz e sombra de formas raramente vistas em uma HQ
até então. Seus traços sóbrios são quase como fotografias e sua atenção aos
detalhes é um prato cheio para quem busca referências por todos os lados. Definitivamente,
A Piada Mortal é fruto da parceria
entre dois grandes artistas.
Adaptações para o Cinema
Alguns elementos
da HQ, como a transformação do Coringa, foram adaptados por Tim Burton no filme
Batman, lançado no ano seguinte. O
próprio Christopher Nolan aproveitou pequenos detalhes da estória em Batman: O Cavaleiro das Trevas de 2008,
no qual o Palhaço do Crime conta diferentes versões sobre como adquiriu aquela
aparência.
Batman: A Piada Mortal, o Filme
Então, em 2016,
a verdadeira adaptação cinematográfica de A
Piada Mortal é lançada. Dirigida por Sam Liu e dublada por Kevin Conroy
(Batman), Mark Hamill (Coringa), Tara Strong (Barbara Gordon) e Ray Wise (James
Gordon), a animação apresenta, em seus trinta minutos iniciais, uma subtrama não
incluída na HQ.
Neste extenso prólogo,
há a dinâmica problemática resultante da parceria entre Batgirl (que aparece
apenas como Barbara na graphic novel) e Batman, enquanto este tenta afastá-la
de uma investigação a fim de protegê-la dos “encantos” do narcisista criminoso
Paris Franz (Maury Sterling), sobrinho do chefe do crime Carlos Francesco (John
DiMaggio).
Se por um lado é
interessante ver Batgirl em ação, como foi a parceria entre os heróis e até que
ponto chegaram antes dos eventos da HQ, por outro o prólogo é alongado demais e
desnecessário ao filme como um todo, já que a narrativa muda quase
completamente nos quarenta minutos finais, quando o Coringa entra em cena e a
trama principal finalmente acontece.
A transição
entre as duas narrativas (o motivo que leva Batman ao Asilo Arkham) é pouco
inspirada, o que faz com que o filme pareça uma junção de dois curtas-metragens.
Ponto negativo para Brian Azzarello, roteirista do projeto.
Pequenos
detalhes da HQ foram alterados e novas cenas foram incluídas para realçar ainda
mais as motivações do Coringa (ainda assim, é uma adaptação bem menos violenta,
não fazendo jus à elevada classificação indicativa nos Estados Unidos). Há
também uma cena adicional durante os créditos finais que aponta para o futuro
de um dos personagens.
De forma geral,
a adaptação é bastante fiel ao material de origem, embora peque por escancarar
sutilezas concebidas de forma magistral por Moore e os traços genéricos da
animação serem inapropriados para aquele conto sádico e violento, já que
raramente remetem ao clima noir tão adequado
e presente na arte de Bolland, e o desfecho em ambas as versões é um belo
exemplo deste contraste.
Nota: ***
Nota: ***