No
início de sua carreira cinematográfica, Ridley Scott era responsável por
dirigir filmes inovadores e expressivos. Já em seu segundo longa, Alien: O Oitavo Passageiro, o diretor se
aventurou pela Ficção Científica em uma época ainda não tão favorável para o
gênero graças à precariedade dos efeitos especiais. Três anos depois, Scott se
arriscaria mais uma vez no território Sci-Fi. Blade Runner: O Caçador de Androides abandonou boa parte do
suspense claustrofóbico do primeiro filme dos Xenomorfos e se estabeleceu como
uma grande referência do neo noir.
Harrison
Ford estava em ascensão na época. O astro havia recentemente participado de
dois filmes de grande repercussão mundial: O
Império Contra-Ataca e Os Caçadores
da Arca Perdida. Ford, embora não tenha sido a primeira opção para o papel
principal, topou participar de Blade
Runner por ter se interessado pelo conceito e por querer interpretar um
personagem mais denso. Convenhamos que Han Solo e Indiana Jones não são
personagens tão desafiadores, ainda que extremamente cativantes.
O
ambiente do filme é a Los Angeles de 2019. Os Blade Runners são policiais
especializados em perseguir e “aposentar” os Replicantes, androides fisicamente
semelhantes aos humanos, porém superiores em força e agilidade e aos menos tão
inteligentes quanto. Os Replicantes foram criados para o trabalho escravo em
colônias para explorar e colonizar outros planetas. Os modelos mais antigos
tinham tempo de vida indeterminado e, quanto mais viviam, mais “humanos” se
tornavam, representando uma ameaça aos humanos reais. Para evitar futuros
problemas, a Tyrell Corporation, responsável pelos Replicantes, decide
desenvolver as versões mais recentes, chamadas de Nexus-6, para durar apenas
quatro anos.
Entretanto,
ao descobrir o fato, um pequeno grupo de Replicantes Nexus-6 se rebela, matando
as pessoas da colônia e posteriormente se dirigindo à Terra, onde são ilegais,
a fim de encontrar Eldon Tyrell (Joe Turkel), seu criador, a única pessoa que
poderia encontrar uma forma de prolongar suas vidas. Enquanto isso, somos
apresentados a Rick Deckard (Ford), um Blade Runner aposentado que logo se vê
forçado a voltar à ativa pelo seu antigo chefe Bryant (M. Emmet Walsh) após ser
informado sobre o motim ocorrido e a iminente chegada dos Nexus-6 à Terra.
A
única forma de distinguir humanos e Replicantes é através do teste
Voight-Kampff, no qual o sujeito é submetido a uma série de perguntas de cunho
emocional – os Replicantes não possuem memórias de infância. Para testar a
máquina que auxilia no teste, Deckard se dirige à própria Tyrell Corporation e
descobre que Rachael (Sean Young), a assistente de Tyrell, é também uma
Replicante, cujas memórias foram implantadas a fim de convencê-la de que é uma
humana. Ao saber que não é quem pensava ser, Rachael passa a temer por sua
vida.
Se
no início do texto mencionei que Blade
Runner é um ícone do neo noir,
isto se deve à fotografia fenomenal de Jordan Cronenweth – que investe em tons
mais escuros e sorumbáticos – e a trilha sonora do mestre Vangelis. A direção
de Scott é pontual, investindo em longos planos abertos a fim de conferir
veracidade àquela Los Angeles distópica – os efeitos visuais são excelentes
mesmo após décadas de inovação na área. As atuações não comprometem. Talvez a
única digna de menção seja a do holandês Rutger Hauer, conferindo imponência, intelecto,
perigo e loucura a Roy Batty, o líder do grupo de Replicantes. É uma pena que Hauer
tenha tão pouco tempo para brilhar, já que, apesar de roubar a cena no terceiro
ato, seu personagem aparece apenas em mais uma sequência durante o filme.
Blade Runner teve diversas versões. O corte
que conheço é o Director’s Cut,
lançado dez anos depois. Ele deixa de lado o desfecho original – o “final feliz”
imposto pelo estúdio – e a narração em off
de Deckard. Algumas outras inserções foram feitas para deixar o filme mais
ambíguo, o que funciona perfeitamente, já que o roteiro respeita o intelecto do
espectador ao deixar algumas pistas e pontas soltas. A versão original de 1982
não agradou muito o público e a crítica especializada, mas o corte de 1992 foi
responsável por elevar Blade Runner ao
status de filme cult, sendo
considerado um dos melhores de seu tempo. Infelizmente, o ritmo lento da
narrativa por vezes a torna cansativa – o que deve ser recorrente em todas as
versões, que variam entre 113 e 117 minutos de duração.
Nota: ****
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