domingo, 21 de junho de 2015

Especial JURASSIC PARK


Certos filmes dos quais assistimos enquanto crianças permanecem irretocáveis em nossos corações. Outros não. Às vezes, filmes que nos marcaram naqueles primeiros anos de vida podem perder o encanto quando revisitados na fase adulta. No fim das contas, só há um jeito de saber. No caso de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, cada vez que o assisto é como se fosse a segunda, pois a primeira, em uma sala de cinema aos sete anos de idade, não possui equivalente.


Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993)

Dirigido por Steven Spielberg em um ano formidável em sua carreira (1993 também viu o lançamento de outra obra-prima sua, o sensacional A Lista de Schindler), Jurassic Park foi um estrondoso sucesso mundial. Permaneceu como a maior bilheteria de todos os tempos, com valores não ajustados para inflação, por quase cinco anos, até ser ultrapassado com folga por Titanic em 1998. O enorme sucesso do filme dos dinossauros se deu não apenas por sua estória e personagens envolventes, mas também por ter sido um marco da computação gráfica à época (a meu ver, juntamente com O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, de dois anos antes) e utilizar animatronics de forma tão convincente.

A narrativa, baseada no livro homônimo de Michael Crichton, lançado em 1990, nos apresenta a John Hammond (o finado Richard Attenborough), o bilionário criador do parque e fundador da InGen, corporação responsável por “ressuscitar” os dinossauros através da manipulação genética. Após um incidente que resulta na morte de um dos funcionários, seus investidores o pressionam para que especialistas possam verificar se o parque é de fato seguro antes de poder abri-lo ao público. Para tal, Hammond contata o paleontólogo Alan Grant (Sam Neill), acompanhado de sua parceira e colega paleobotânica Ellie Sattler (Laura Dern), enquanto o advogado Donald Gennaro (Martin Ferrero), representante dos investidores de Hammond, convoca o matemático e especialista em Teoria do Caos Ian Malcolm (Jeff Goldblum). Assim sendo, os cinco partem para Isla Nublar, onde o parque é situado, enquanto Hammond mantém segredo sobre suas atividades, a fim de surpreender os demais, sobretudo Dr. Grant.

Para conseguir o aval de Grant e Malcolm, Hammond organiza um passeio pelo parque para os convidados, incluindo seus netos Lex (Ariana Richards) e Tim (Joseph Mazzello). Enquanto isso, Dennis Nedry (Wayne Knight), o analista e desenvolvedor do sistema computadorizado do parque, planeja sabotar as atividades do grupo em prol do benefício próprio. Destinados a virar comida de dino, Grant e Cia lutarão pela sobrevivência em um ambiente absolutamente hostil, enquanto Hammond, o guarda florestal Robert Muldoon (Bob Peck) e o engenheiro chefe Ray Arnold (Samuel L. Jackson) tentam restaurar o sistema e as funcionalidades do parque.

Jurassic Park é um filme recheado de cenas marcantes. A mais memorável de todas, quando o filme realmente decola, envolve a primeira aparição do T-Rex e o subsequente ataque aos carros. A ausência da trilha sonora deixa tudo muito mais tenso por dar ênfase aos sons ambientes e rugidos épicos do carnívoro. Outro momento tenso e genial envolve os ainda mais letais Velociraptors perseguindo as crianças dentro de uma cozinha – e, já que os mencionei, vale lembrar que os T-Rex e Velociraptors, embora não sejam os mesmos no decorrer dos filmes, são os reais protagonistas da franquia, e não apenas por ter a palavra Jurassic no título.

Os personagens de Sam Neill e Jeff Goldblum também merecem destaque. Grant é um homem que odeia crianças e que, por ironia do destino, ficará encarregado de proteger Lex e Tim dos perigos da ilha, o que mostra seu real caráter: acreditamos nele quando afirma “mas não é isso o que farei” ao ouvir de uma das crianças que elas foram abandonadas em uma situação de perigo. Já Malcolm é um ser extremamente racional e inteligente cujas teorias proferidas na primeira metade da projeção revelam-se fatos durante a última hora. Além de possuir um grande senso de humor, é um cafajeste nato, constantemente tentando o flerte com Ellie, ainda que na presença de Grant.

E o que dizer sobre a trilha sonora do grandioso John Williams, compositor de alguns dos temas mais famosos do Cinema (Superman, Indiana Jones, Star Wars, Tubarão, etc.)? Aqui ele entrega mais um score maravilhoso e inesquecível – me arrepio sempre que ouço o tema de Jurassic Park em qualquer um dos quatro filmes. Os efeitos especiais continuam impressionantes mesmo nos dias atuais, embora tenham sido aprimorados consideravelmente nas continuações. Independentemente, Jurassic Park, com toda sua pompa, permanece uma obra atemporal e implacável.

Nota: *****


O Mundo Perdido: Jurassic Park (The Lost World: Jurassic Park, 1997)

Devido ao sucesso de Jurassic Park, Spielberg pressionou Michael Crichton a escrever uma continuação para seu livro. Assim sendo, The Lost World chegou às livrarias em 1995, e a produção do segundo filme, também dirigido por Spielberg, logo começou. Na trama, John Hammond, já debilitado pelas inúmeras primaveras, revela a Ian Malcolm a existência da Isla Sorna – situada a 87 milhas da Isla Nublar – onde os dinossauros foram criados antes de ser transferidos para o parque. Ao ser informado sobre um furacão que acabaria por destruir o complexo da InGen na ilha, Hammond ordenou que os animais fossem soltos a fim de sobreviverem e viverem livremente, sem qualquer interferência humana. Entretanto, quatro anos depois, devido a outro incidente de gravidade menor envolvendo uma criança explorando a costa da ilha, Hammond acaba afastado do comando da InGen e seu sobrinho inescrupuloso Peter Ludlow (Arliss Howard) passa a assumir as rédeas, planejando invadir a ilha para capturar alguns espécimes e poder abrir uma nova versão do Jurassic Park em San Diego e, assim, gerar lucro e reerguer a corporação.

Para evitar que isto aconteça, Hammond pretende enviar um grupo de pessoas à Isla Sorna para poder documentar os dinossauros em seu habitat natural e assim manter a opinião pública ao seu lado, com o propósito de preservar os dinossauros e fazer desta sua chance de redenção. Malcolm, obviamente, recusa-se a retornar àquele mundo jurássico de onde quase não saiu vivo anos antes. Antecipando sua recusa, Hammond revela que já havia enviado Sarah Harding (Julianne Moore), uma paleontóloga comportamental e namorada de Malcolm, à ilha. Ele, temendo a morte da amada, se vê obrigado a resgatá-la, acompanhado do resto da equipe – o especialista em equipamento Eddie Carr (Richard Schiff) e o documentarista e ambientalista Nick Van Owen (Vince Vaughn). Kelly (Vanessa Lee Chester), filha de Malcolm, acaba indo junto sem que seu pai saiba. Na Isla Sorna, a equipe enfrentará, além de dinossauros, o vasto grupo de mercenários comandado pelo caçador Roland Tembo (Pete Postlethwaite) e supervisionado por Ludlow.

The Lost World é um filme muito diferente de Jurassic Park. É muito mais denso e sombrio e não envolve o parque do filme original (o subtítulo foi inserido apenas como estratégia de marketing). Quase todas as cenas se passam à noite (excelente trabalho de cinematografia) e o número de defuntos aqui é muito mais expressivo. Não foi feito para todas as idades e não tem tantas cenas memoráveis como no anterior. Devido a todas estas mudanças, a continuação não foi muito bem recebida à época de seu lançamento e as pessoas que preferem sempre o “mais do mesmo” continuam torcendo o nariz para ela até os dias atuais. Reassistindo The Lost World sem preconceitos para poder escrever este artigo, posso afirmar que, embora seja inferior à Jurassic Park (convenhamos, nenhum roteiro poderia ser tão bom quanto o do original), trata-se de uma sequência digna por possuir uma boa estória a contar e expandir aquele universo, tornando-o mais rico e complexo.

O tom do filme também é refletido no personagem de Jeff Goldblum – Ian Malcolm agora é um homem amargurado, em decadência profissional após tentar expor todo o horror que presenciou na Isla Nublar quatro anos antes (afinal, quem iria acreditar em um homem que diz quase ter sido comido por dinossauros?). O melhor personagem do primeiro filme perde todo o seu encanto aqui, e não digo isso como uma crítica, pois, dadas as circunstâncias, faz todo o sentido.

Steven Spielberg merece meu respeito por ter criado em The Lost World, a meu ver, uma sequência tão sensacional quanto aquela de Jurassic Park envolvendo o T-Rex e um carro. Desta vez, temos dois T-Rex e um trailer à beira de um precipício. Novamente, não há trilha sonora e a tensão é bem grande. Todavia, infelizmente os Velociraptors não foram tão bem aproveitados e suas cenas são alguns dos momentos mais fracos do filme, como a perseguição nas ruínas do complexo da InGen. O elenco não faz feio, mas gostaria de destacar Vince Vaughn, por não ter pisado na bola com um papel mais interessante e exigente do que aqueles que costuma interpretar, e Pete Postlethwaite por seu personagem ambíguo, afinal passamos boa parte da projeção sem ter certeza das reais intenções do caçador Tembo. Do primeiro filme, ainda temos uma breve aparição de Ariana Richards e Joseph Mazzello.

No fim das contas, The Lost World não é um filme perfeito, mas caso você, assim como eu, gosta de continuações diferentes (contanto que se justifiquem), tanto em tom quanto narrativa, a experiência pode acabar sendo satisfatória.

Nota: ****


Jurassic Park III (idem, 2001)

Se muitas pessoas não aprovaram The Lost World, foi com o terceiro filme que as coisas realmente ficaram feias. Spielberg transferiu a direção para Joe Johnston e as filmagens atrasaram, pois o roteiro entregue não havia agradado a ambos. Durante todo o processo de filmagem, sequer havia um roteiro pronto, o que jamais é um bom sinal. Muita coisa foi feita nas coxas.

O resultado se chama Jurassic Park III e traz de volta Alan Grant, famoso por ter sobrevivido aos acontecimentos na Isla Nublar (àquela altura do campeonato, os dinossauros já eram de conhecimento público devido aos eventos mostrados no terceiro ato do filme anterior), porém enfrentando dificuldades financeiras para continuar com suas escavações. Portanto, ele é facilmente convencido a acompanhar o rico casal Paul (William H. Macy) e Amanda Kirby (Téa Leoni) em uma turnê aérea pela Isla Sorna para poder orientá-los sobre os dinossauros da ilha. Ao chegar lá, Grant e seu colega assistente Billy Brennan (Alessandro Nivola) descobrem que se trata de uma missão de resgate, pois Erik (Trevor Morgan), filho do casal, havia desaparecido na região semanas antes. Ao terem o avião destruído em um ataque, Grant e Cia precisam achar uma forma de chegar à costa e enviar um pedido de socorro. E é isto. Esta é a sinopse de Jurassic Park III.

(Título esse que, diga-se de passagem, sequer faz sentido. Seria mais justo chamá-lo de The Lost World - Part II, já que também se passa na Isla Sorna, o que também não faria tanto sentido assim, já que aquele mundo não está mais “perdido”. Que tal Jurassic Island ou Jurassic Part III? Mas apenas divago. Pararei por aqui.)

Nada do que acontece no filme adiciona à narrativa geral da franquia, afinal as estórias daquela ilha e de Grant já haviam sido satisfatoriamente contadas e desta vez temos apenas menção a John Hammond e vemos o laboratório abandonado da InGen (Malcolm e o incidente em San Diego também são brevemente mencionados, o que prova que os roteiristas ao menos se preocuparam com continuidade). A “trama” é totalmente confinada àquele lugar e momento e é algo que já vimos antes. Embora seja cerca de 35 minutos menor do que os outros três filmes, este, sem dúvida, parece o mais longo por sua falta de ritmo – trata-se de um apanhado de sequências de ação com pausas para descanso. Jamais há a construção da tensão, tão presente em Jurassic Park e The Lost World. O dinossauro “do mal” apresentado no filme, o Spinosaurus, não chega a ser tão marcante e rouba bastante tempo de tela dos Raptors e, sobretudo, do bom e velho Rex, reduzido a uma ponta de luxo.

Voltando às cenas de ação, estas ao menos são bem estruturadas, como as ótimas sequências no aviário (envolvendo os Pteranodons) e no rio, e os efeitos especiais são, como é tradição na franquia, maravilhosos. Mas para por aqui. Um filme não se sustenta com apenas estes fatores. Com exceção feita a Sam Neill, que carrega o filme nas costas, todo o elenco, mesmo contando com nomes competentes, parece estar ali apenas pelo contracheque. Seus personagens são muito burros e sabemos quem sairá vivo dessa e quem virará presunto desde o começo. É uma pena constatar que a aparente despedida de Neill e Laura Dern (que tem duas breves aparições aqui) da franquia é muito menos honrosa do que a de Jeff Goldblum e Richard Attenborough no capítulo anterior, pois Jurassic Park III é preguiçoso, desnecessário e esquecível.

Nota: **


Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015)

Com o desastre que foi o filme de 2001, Spielberg decidiu tomar mais cuidado com a terceira continuação de Jurassic Park. Anos foram gastos no desenvolvimento de um roteiro decente, fazendo com que a produção e a data de lançamento do longa fossem sempre adiadas. O diretor da vez, Colin Trevorrow, era relativamente desconhecido e aparentemente inexperiente. O elenco original não retornaria. Tinha tudo para dar errado novamente, mas não foi o que aconteceu: Jurassic World chegou às telonas 14 anos após o último filme para reconquistar os fãs do original e, no processo, abocanhar o interesse de toda uma nova geração.

Jurassic World nos traz de volta à Isla Nublar após 22 anos. O parque foi finalmente aberto, atraindo visitantes de todas as partes do mundo, com um público diário estimado em vinte mil pessoas. Entretanto, os dinossauros passaram a ser banalizados, sobretudo pelas crianças, que os encaram como se fossem elefantes e veem o parque como um grande zoológico. Para aumentar o interesse do público, os cientistas da InGen, liderados pelo Dr. Henry Wu (B.D. Wong), desenvolvem um novo dinossauro, maior, mais poderoso e com mais dentes, chamado Indominus Rex, que não tarda a fugir de seu cativeiro, causando estragos e fazendo vítimas por toda a ilha, ao mesmo tempo em que os irmãos Zach (Nick Robinson) e Gray Mitchell (Ty Simpkins), sobrinhos de Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), a chefe de operações do Jurassic World, estão desaparecidos. Para tentar encontrá-los, ela conta com a ajuda de Owen Grady (Chris Pratt), adestrador e especialista em Velociraptors.

Enquanto isso, na sala de operações, Simon Masrani (Irrfan Khan), o dono do parque, coordena missões para tentar capturar o Indominus com a assistência dos funcionários Vivian (Lauren Lapkus) e Lowery (Jake Johnson), mantendo constante contato com Claire pelo telefone. Já Vic Hoskins (Vincent D’Onofrio), o chefe de operações de segurança da InGen, pretende tirar proveito da situação para testar a lealdade dos quatro Raptors treinados por Grady, pois tem planos para transformar os espécimes em armas de combate no futuro.

Jurassic World é uma grande homenagem a Jurassic Park, trazendo inúmeras referências ao filme original e provocando a nostalgia naqueles que se maravilharam em 1993 (eu, particularmente, me senti como uma criança de sete anos de idade novamente). Sumariamente ignorando os eventos de The Lost World (que tornariam a abertura do parque impossível) e Jurassic Park III (por ser uma porcaria que todo mundo quer esquecer) e, consequentemente, a existência da Isla Sorna, o quarto filme pode até ser considerado uma continuação alternativa do original. Além de diversas menções a John Hammond, ainda temos a volta de dois personagens de Jurassic Park, sendo apenas um deles humano (Dr. Henry Wu, aqui com um pouco mais de tempo de tela – o outro personagem, embora apareça brevemente no primeiro ato, mostra a que veio apenas no épico clímax da projeção). Os Velociraptors, mal aproveitados nos dois filmes anteriores, voltam a ter um papel fundamental desta vez.

Utilizando bem mais computação gráfica do que animatronics, Jurassic World tem um visual muito convincente em boa parte do tempo. Há alguns momentos em que seu uso chega a ser óbvio demais, como nas aparições do Mosasaurus, mas que não comprometem o resultado final. Vale destacar a trilha sonora de Michael Giacchino, que cria belos temas originais além de retrabalhar aqueles inesquecíveis criados por John Williams. Já o diretor Colin Trevorrow nos lembra que inexperiência não significa necessariamente incompetência, trazendo a tensão – tão ausente no filme anterior – de volta e nos permitindo compreender o tempo-espaço em cada uma das várias cenas de ação com facilidade, sem apelar para cortes constantes, cada vez mais comuns em blockbusters de ação.

Graças à competência e carisma de Bryce Dallas Howard e Chris Pratt, a química entre os protagonistas é interessante, pois, logo em sua primeira cena juntos, já fica claro que há certa tensão sexual (e desconforto por parte da moça) entre Claire e Owen, mesmo com suas personalidades e estilos de vida tão distintos: Owen é um macho alfa acostumado a lidar com feras mortais e viver em um bangalô à beira de um precipício (talvez uma leve referência à The Lost World?), enquanto Claire é uma mulher de negócios solteira, independente e extremamente organizada que, de acordo com Owen, vê humanos e animais como números em uma planilha. Sua transformação no desenrolar da trama soa orgânica, pois ela não vira fodona de um momento ao outro. Os personagens coadjuvantes também não fazem feio, embora os irmãos Zach e Gray possam parecer irritantes a princípio.

Com o melhor terceiro ato de toda a franquia, Jurassic World resgata o prestígio que a mesma um dia teve e prepara o terreno para o futuro dos dinossauros no Cinema. Jurassic Park continua imbatível (provavelmente sempre será), mas Jurassic World, com todas as suas autocríticas, não fica muito atrás, o que já é uma grande vitória para o filme e os fãs.

Nota: *****

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