domingo, 23 de agosto de 2015

Na Mira do Chefe (In Bruges, 2008)

Certos filmes possuem uma trama tão simples que, em mãos erradas, poderiam se tornar verdadeiras bombas cinematográficas. Todavia, com um roteiro bem estruturado, atuações memoráveis e direção ímpar, o resultado pode ser primoroso e, quiçá, uma aula sobre o Cinema.


Na Mira do Chefe é um belo exemplo deste “porém”. A narrativa nos apresenta a Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan Gleeson), dois assassinos que trabalham para Harry (Ralph Fiennes). O jovem e ingênuo Ray, após cometer um grande erro em seu primeiro trabalho como assassino, é enviado, juntamente com o mais velho e experiente Ken, para Bruges, uma pequena cidade da Bélgica, para aguardar demais instruções de Harry. Mais tarde, aprendemos que o chefe os enviou àquela cidade para que Ray pudesse apreciar seus últimos dias de vida, antes de ser executado pelo relutante Ken.

O filme é, acima de tudo, focado no desenvolvimento de personagens, um mérito não apenas do roteiro, mas também do elenco. O tão criticado Colin Farrell, sob a direção competentíssima de Martin McDonagh (também responsável pelo roteiro), nos entrega uma performance sólida como Ray, fazendo-nos simpatizar com seu imenso sentimento de culpa. Já o veterano Brendan Gleeson não precisa de muito esforço para que acreditemos que Ken, além de culto e cavalheiro, de fato se preocupe com o bem-estar de Ray, servindo até mesmo como figura paterna para este em diversos momentos. O elenco é completado por Clémence Poésy (Chlöe, uma bela traficante com quem Ray se envolve), Jordan Prentice (Jimmy, um ator anão viciado em drogas), Jérémie Renier (Eirik, ex-namorado de Chlöe), Eric Godon (Yuri, o fornecedor de armas de Harry) e Thekla Reuten (Marie, a proprietária do hotel onde Ray e Ken estão hospedados).

Contudo, quem mais brilha na projeção é Ralph Fiennes. Seu personagem é um dos vilões mais atípicos do Cinema: Harry é um homem de princípios, capaz de raciocinar com clareza mesmo em condições adversas, como ao pedir desculpas à esposa após agredi-la verbalmente, ao reagir à estória sobre como Eirik ficou cego de um olho ou ao invadir o hotel onde Ken e Ray estão hospedados e ser abordado por Marie. Somos apresentados ao personagem aos poucos – primeiramente, através de uma mensagem transcrita por Marie para seus asseclas, passando por uma hilária conversa com Ken ao telefone e, finalmente, revelando-se ao fim do segundo ato.

Se Na Mira do Chefe foca sua narrativa em Ray, Ken e Harry e consegue a proeza de nos fazer torcer por todos eles, a real protagonista do filme é Bruges. O diretor de fotografia Eigil Bryld capturou toda a essência da pequena cidade turística, famosa por seus canais e belíssima arquitetura medieval, através de planos detalhando monumentos e geografia do lugar, além de esculturas e quadros pertinentes ao seu rico passado. Eu jamais havia visto uma localização ser tão bem utilizada para contar uma estória (não à toa, o título original leva seu nome). Fiquei encantado com a cidade logo no início da projeção e, ao fim, estava louco para conhecê-la pessoalmente.

Nota: *****

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