Certos
filmes possuem uma trama tão simples que, em mãos erradas, poderiam se tornar
verdadeiras bombas cinematográficas. Todavia, com um roteiro bem estruturado,
atuações memoráveis e direção ímpar, o resultado pode ser primoroso e, quiçá,
uma aula sobre o Cinema.
Na Mira do Chefe é um belo exemplo deste
“porém”. A narrativa nos apresenta a Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan
Gleeson), dois assassinos que trabalham para Harry (Ralph Fiennes). O jovem e
ingênuo Ray, após cometer um grande erro em seu primeiro trabalho como
assassino, é enviado, juntamente com o mais velho e experiente Ken, para
Bruges, uma pequena cidade da Bélgica, para aguardar demais instruções de Harry.
Mais tarde, aprendemos que o chefe os enviou àquela cidade para que Ray pudesse
apreciar seus últimos dias de vida, antes de ser executado pelo relutante Ken.
O
filme é, acima de tudo, focado no desenvolvimento de personagens, um mérito não
apenas do roteiro, mas também do elenco. O tão criticado Colin Farrell, sob a
direção competentíssima de Martin McDonagh (também responsável pelo roteiro),
nos entrega uma performance sólida como Ray, fazendo-nos simpatizar com seu
imenso sentimento de culpa. Já o veterano Brendan Gleeson não precisa de muito
esforço para que acreditemos que Ken, além de culto e cavalheiro, de fato se
preocupe com o bem-estar de Ray, servindo até mesmo como figura paterna para
este em diversos momentos. O elenco é completado por Clémence Poésy (Chlöe, uma
bela traficante com quem Ray se envolve), Jordan Prentice (Jimmy, um ator anão viciado
em drogas), Jérémie Renier (Eirik, ex-namorado de Chlöe), Eric Godon (Yuri, o fornecedor
de armas de Harry) e Thekla Reuten (Marie, a proprietária do hotel onde Ray e
Ken estão hospedados).
Contudo,
quem mais brilha na projeção é Ralph Fiennes. Seu personagem é um dos vilões
mais atípicos do Cinema: Harry é um homem de princípios, capaz de raciocinar
com clareza mesmo em condições adversas, como ao pedir desculpas à esposa após
agredi-la verbalmente, ao reagir à estória sobre como Eirik ficou cego de um
olho ou ao invadir o hotel onde Ken e Ray estão hospedados e ser abordado por
Marie. Somos apresentados ao personagem aos poucos – primeiramente, através de
uma mensagem transcrita por Marie para seus asseclas, passando por uma hilária
conversa com Ken ao telefone e, finalmente, revelando-se ao fim do segundo ato.
Se Na Mira do Chefe foca sua narrativa em
Ray, Ken e Harry e consegue a proeza de nos fazer torcer por todos eles, a real
protagonista do filme é Bruges. O diretor de fotografia Eigil Bryld capturou
toda a essência da pequena cidade turística, famosa por seus canais e belíssima
arquitetura medieval, através de planos detalhando monumentos e geografia do
lugar, além de esculturas e quadros pertinentes ao seu rico passado. Eu jamais
havia visto uma localização ser tão bem utilizada para contar uma estória (não
à toa, o título original leva seu nome). Fiquei encantado com a cidade logo no
início da projeção e, ao fim, estava louco para conhecê-la pessoalmente.
Nota: *****
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