terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972)

Eu era um grande fã de Jon Voight na adolescência. Em 1998, sem as facilidades atuais que nossa querida Internet proporciona, eu havia conseguido cópias em VHS de aproximadamente 30 de seus filmes, mais da metade de todos os que ele já havia feito até então. Alguns foram maravilhosos, outros razoáveis e o resto foi pura porcaria. Um dos melhores, certamente, foi Amargo Pesadelo, do diretor John Boorman, adaptado do romance escrito e publicado pelo americano James Dickey dois anos antes.


Em um fim de semana qualquer, Lewis (Burt Reynolds), Ed (Jon Voight), Bobby (Ned Beatty) e Drew (Ronny Cox), quatro homens da cidade grande, decidem ir para os confins da Georgia a fim de descer de canoa o rio Cahulawassee, situado em uma área que logo será inundada para a construção de uma represa. O que eles esperavam ser um fim de semana repleto de aventuras e boas lembranças acaba se transformando no título – em português – da narrativa após toparem com dois caipiras habitantes daquela região.

Amargo Pesadelo é um filme tenso. É possível sentir o clima de hostilidade daquele lugar e de seus habitantes assim que os protagonistas chegam. A cena-chave da película, além de corajosa (assim como no livro, eu suponho), é bastante incômoda de se ver. O clímax ocorre durante a transição do segundo para o terceiro ato e, ainda assim, nunca há a sensação de alívio neste último. E este é um dos motivos de o filme ser especial.

Há, claro, momentos de calma antes da tempestade, como as cenas que acompanham os conhecidos em suas primeiras descidas pelo rio que, inclusive, pode ser considerado como um “quinto protagonista” da história: convidativo e, ao mesmo tempo, ameaçador, o Cahulawassee é o fio condutor de um belíssimo cenário e uma narrativa perturbadora. E o que dizer da fantástica cena envolvendo um duelo de violão e banjo, senão que é uma das mais icônicas e lembradas do Cinema, assim como a canção em si (Dueling Banjos, de Arthur Smith)?

Se utilizei a palavra “conhecidos” para me referir a Lewis, Ed, Bobby e Drew, é porque o roteiro de Boorman não os explora suficientemente. Eles são forasteiros não apenas aos olhos dos habitantes daquele lugar ou do espectador, mas também entre si. Sabem o nome um do outro, viajaram juntos, trocaram palavras, mas não são amigos – talvez com exceção a Ed e o líder Lewis, o único que realmente nos dá uma explicação para estar ali. Tenho certeza de que o filme seria ainda mais forte se soubéssemos um pouco mais sobre estes distintos homens.

Outro fator que torna o filme único para os padrões de hoje é que todos os quatro atores realmente filmaram as perigosas cenas no rio Chattooga (o real, que de fato passa pela Georgia) sem o auxílio de cabos, dublês, computadores e até mesmo seguro contra acidentes. Jon Voight escalou um penhasco de verdade. Hoje tudo seria feito em uma piscina ou parede com um imenso chroma key ao fundo. Eu pessoalmente não consigo ver tensão nisso. Nem cinema de verdade.

Nota: *****

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