Eu
era um grande fã de Jon Voight na adolescência. Em 1998, sem as facilidades
atuais que nossa querida Internet proporciona, eu havia conseguido cópias em
VHS de aproximadamente 30 de seus filmes, mais da metade de todos os que ele já
havia feito até então. Alguns foram maravilhosos, outros razoáveis e o resto
foi pura porcaria. Um dos melhores, certamente, foi Amargo Pesadelo, do diretor John Boorman, adaptado do romance
escrito e publicado pelo americano James Dickey dois anos antes.
Em
um fim de semana qualquer, Lewis (Burt Reynolds), Ed (Jon Voight), Bobby (Ned
Beatty) e Drew (Ronny Cox), quatro homens da cidade grande, decidem ir para os
confins da Georgia a fim de descer de canoa o rio Cahulawassee, situado em uma
área que logo será inundada para a construção de uma represa. O que eles
esperavam ser um fim de semana repleto de aventuras e boas lembranças acaba se
transformando no título – em português – da narrativa após toparem com dois
caipiras habitantes daquela região.
Amargo Pesadelo é um filme tenso. É
possível sentir o clima de hostilidade daquele lugar e de seus habitantes assim
que os protagonistas chegam. A cena-chave da película, além de corajosa (assim
como no livro, eu suponho), é bastante incômoda de se ver. O clímax ocorre
durante a transição do segundo para o terceiro ato e, ainda assim, nunca há a
sensação de alívio neste último. E este é um dos motivos de o filme ser
especial.
Há,
claro, momentos de calma antes da tempestade, como as cenas que acompanham os
conhecidos em suas primeiras descidas pelo rio que, inclusive, pode ser considerado
como um “quinto protagonista” da história: convidativo e, ao mesmo tempo, ameaçador,
o Cahulawassee é o fio condutor de um belíssimo cenário e uma narrativa perturbadora.
E o que dizer da fantástica cena envolvendo um duelo de violão e banjo, senão
que é uma das mais icônicas e lembradas do Cinema, assim como a canção em si (Dueling Banjos, de Arthur Smith)?
Se
utilizei a palavra “conhecidos” para me referir a Lewis, Ed, Bobby e Drew, é
porque o roteiro de Boorman não os explora suficientemente. Eles são
forasteiros não apenas aos olhos dos habitantes daquele lugar ou do espectador,
mas também entre si. Sabem o nome um do outro, viajaram juntos, trocaram
palavras, mas não são amigos – talvez com exceção a Ed e o líder Lewis, o único
que realmente nos dá uma explicação para estar ali. Tenho certeza de que o
filme seria ainda mais forte se soubéssemos um pouco mais sobre estes distintos
homens.
Outro
fator que torna o filme único para os padrões de hoje é que todos os quatro
atores realmente filmaram as perigosas cenas no rio Chattooga (o real, que de
fato passa pela Georgia) sem o auxílio de cabos, dublês, computadores e até
mesmo seguro contra acidentes. Jon Voight escalou um penhasco de verdade. Hoje
tudo seria feito em uma piscina ou parede com um imenso chroma key ao fundo. Eu pessoalmente não consigo ver tensão nisso.
Nem cinema de verdade.
Nota: *****
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