Cameron Crowe é um cineasta apaixonado pelo
Rock. Antes de se aventurar pela Sétima Arte, excursionava com bandas como Led
Zeppelin, The Who, Lynyrd Skynyrd e Eagles a fim de conhecer mais a fundo a
história das bandas, suas personalidades e como elas se comportavam na estrada.
Era e continua sendo um editor colaborador da revista Rolling Stone, uma das
mais influentes na área do jornalismo musical. Em 2000, Crowe fez um apanhado
de diversas de suas experiências como crítico de Rock para realizar uma espécie
de semi-autobiografia cinematográfica.
Crowe
já havia demonstrado seu apreço pelo Rock em Vida de Solteiro (Singles), de 1992, cuja narrativa se passa em
Seattle, durante o auge do movimento Grunge, com aparições de bandas como Alice
In Chains, Soundgarden e Pearl Jam (esta última acabou ganhando um documentário
em 2011 pelas mãos do próprio Crowe, Pearl
Jam Twenty, ou simplesmente PJ20).
Porém, em Quase Famosos, é absurdamente
notável o quanto o coração de Crowe está presente em cada quadro, cada linha de
diálogo e canção selecionada.
O
filme narra a história de William Miller (Patrick Fugit), um adolescente genial
e precoce. Somos apresentados a ele, sua irmã mais velha Anita (Zooey Deschanel,
linda demais) e Elaine, sua mãe (a sempre ótima Frances McDormand). O ano é
1969 e Anita, frustrada com a forma bizarra com que Elaine tenta educar os
filhos, acaba partindo, deixando sua coleção de vinis para William, que acaba se
apaixonando assim que coloca Sparks,
da primeira Ópera Rock do The Who, Tommy.
Temos um salto de quatro anos. William, agora com 15, já é um redator da
revista Cream e está prestes a concluir o colegial.
Ao
conhecer pessoalmente o famoso crítico Lester Bangs (o grande Philip Seymour
Hoffman, falecido no ano corrente), William é incumbido de entrevistar nada
menos do que o Black Sabbath. No local do show, acaba conhecendo algumas groupies – incluindo a bela Penny Lane
(Kate Hudson, em ótima atuação), por qual William acaba tendo uma queda – e a
banda Stillwater. Dias depois, William recebe uma ligação de Ben Fong-Torres
(Terry Chen), editor da Rolling Stone.
Desconhecendo
a idade do competente jornalista, Fong-Torres o oferece uma grana preta e uma
excelente oportunidade para acompanhar uma banda em turnê e escrever uma vasta
matéria sobre a mesma. William, então, sugere a Stillwater, banda promissora e
ainda com pouca bagagem que acabara de conhecer pessoalmente. Ele logo se vê na
estrada com a banda liderada pelo irritante vocalista Jeff Bebe (Jason Lee) e o
guitarrista molha-calcinha Russell Hammond (Billy Crudup), além de Penny Lane,
em uma aventura que mudará sua vida e a forma com que vê o mundo.
A
sinopse em três parágrafos pode parecer demais, mas, acreditem, trata-se apenas
do primeiro ato do filme, que conta com duas versões: a tradicional dos cinemas,
com 122 minutos, e a estendida, chamada apenas de Untitled, ou The Bootleg Cut,
com 164 minutos. É desnecessário afirmar que a versão mais curta se torna
obsoleta ao assistirmos aquela com mais de 40 minutos adicionais, pois nenhuma
cena estendida ou incluída torna o filme cansativo. Muito pelo contrário. Temos
mais estudo de personagens, diálogos maravilhosos (os melhores que já conferi
em qualquer filme), e podemos entender melhor a química entre Russell e Penny.
Todo
o elenco brilha em Quase Famosos, mas
posso dizer que os destaques vão para Frances McDormand, Philip Seymour Hoffman
e, obviamente, Kate Hudson. Não há nenhum personagem que não cumpra uma função
num roteiro cheio de momentos brilhantes, quase mágicos para os amantes de
Cinema (e de Rock). O humor é inteligente e pontual e contrasta muito bem com o
terceiro ato, já não tão mágico aos olhos de William. A trilha sonora traz ícones
do Rock dos anos 60 e 70 como Black Sabbath, Iggy Pop, Led Zeppelin, Elton
John, Simon & Garfunkel, The Who, The Allman Brothers Band e Lynyrd Skynyrd,
colorindo ainda mais as cenas já vívidas da projeção, que nos ensina o que é o
poder da Música e até que ponto ela pode nos levar. Quase Famosos mudou minha vida. Não era nascido nos anos 70, mas os
presenciei por 164 minutos.
Nota: *****
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